quinta-feira, 3 de junho de 2010

Por que não vão cuidar de crianças? Texto do Instituto Nina Rosa

Resposta à pergunta de algumas pessoas

Questão interessante. Vamos ver se essa eu consigo responder de modo  didático. 


1) Quem faz esta pergunta admite que existem dois tipos de pessoas no mundo: As Pessoas Que Ajudam e as Pessoas Que Não Ajudam.

Além disso, admite também que faz parte das Pessoas Que Não Ajudam, afinal, do contrário,  diria  "Por que não me ajudam a defender as crianças com fome?", ou "Venham defender comigo as crianças com fome!", ou "Não, obrigada, vou defender as crianças com fome".
Então ela se coloca claramente através de sua escolha de palavras como uma Pessoa Que Não Ajuda.
É curioso a Pessoa Que Não Ajuda, não faz nenhum esforço para ajudar, mas, sim, para tentar dirigir as ações das Pessoas Que Ajudam. É bastante interessante. Se eu fosse até sua casa organizar sua vida financeira sob a alegação de que eu sei muito mais sobre administração familiar eu estaria interferindo, mas ela se sente no direito de interferir nas ações que uma pessoa resolve tomar para aliviar os problemas que ela encontra ao seu redor.
É uma Pessoa Que Não Ajuda, mas ainda assim quer decidir quem merece ajuda das pessoas Que Ajudam e o nome disso é "prepotência".

2) Pessoas Que Ajudam nunca vão ajudar as "crianças com fome". Nem tampouco os "velhos", os "doentes" ou os "despossuídos". E sabe por que?

Porque "crianças com fome" ou "velhos" ou qualquer outro destes é abstrato demais. Não têm face, não são ninguém. São figuras de retóricas de quem gosta de comentar sobre o estado do mundo atual enquanto beberica seu uisquezinho no conforto de sua casa.
Pessoas Que Ajudam agem em cima do que existe, do que elas podem ver, do que lhes chama atenção naquele momento. Elas não ajudam "os velhos", elas ajudam "os velhos do asilo X com 50,00 reais por mês".
Elas não ajudam "as crianças com fome", elas ajudam "as crianças do orfanato Y com a conta do supermercado".
Elas não ajudam "os doentes", elas ajudam o "Instituto da Doença Z com uma tarde por semana contando histórias aos pacientes".
Pessoas Que Ajudam não ficam esperando esses seres vagos e difusos como as "crianças com fome" baterem na porta da sua casa e perguntar se elas podem lhe ajudar.
Pessoas Que Ajudam vão atrás de questões muito mais pontuais.
Pessoas Que Ajudam cobram das autoridades punição contra quem maltrata uma cadela indefesa sem motivo.
Pessoas Que Ajudam dão auxílio a um pai de família que perdeu o emprego e não tem como sustentar seus filhos por um tempo.
Pessoas Que Ajudam tiram satisfação de quem persegue uma velhinha no meio da rua.
Pessoas Que Ajudam dão aulas de graça para crianças de um bairro pobre.
Pessoas Que Ajudam levantam fundos para que alguém com uma doença rara possa ir se tratar no exterior.
Pessoas Que Ajudam não fogem da raia quando vêem QUALQUER COISA onde elas possam ser úteis. Quem se preocupa com algo tão difuso e sem cara como as "crianças com fome" são as Pessoas Que Não Ajudam.

3) Pessoas Que Ajudam são incrivelmente multitarefa, ao contrário da preocupação que as Pessoas Que Não Ajudam manifestam a seu respeito. (Preocupação até justificada porque, afinal, quem nunca faz nada realmente deve achar que é muito difícil fazer alguma coisa, quanto mais várias).

 
O fato de uma pessoa Que Ajuda se preocupar com a punição de quem burlou a lei e torturou inutilmente um animal não significa que ela forçosamente comeu o cérebro de criancinhas no café da manhã. Não existe uma disputa de facções entre Pessoas Que Ajudam, tipo "humanos versus animais".
Geralmente as Pessoas Que Ajudam, até por estarem em menor número, ajudam várias causas ao mesmo tempo. Elas vão onde precisam estar, portanto muitas das Pessoas Que Ajudam que acham importante fazer valer a lei no caso de maus-tratos a um animal são pessoas que ao mesmo tempo doam sangue, fazem trabalho voluntário, levantam fundos, são gentis com os menos privilegiados e batalham por condições melhores de  vida para aqueles que não conseguem fazê-lo sozinhos.
Talvez você não saiba porque, afinal, as Pessoas Que Ajudam não saem alardeando por aí quando precisam de assinaturas para dobrar a pena para quem comete atrocidades contra animais, que estão fazendo todas estas outras coisas, quase que diariamente. E acho que é por isso que você pensa que se elas estão lutando por uma causa que você "não curte", elas não estão fazendo outras pequenas ou grandes ações para os diversos outros problemas que elas vêem no mundo. Elas estão, sim. E se fazem ouvir como podem, porque sempre tem uma Pessoa Que Não Ajuda no meio para dar pitaco.

Então, como dizia meu avô, "muito ajuda quem não atrapalha". Porque a gente já tem muito trabalho ajudando pessoas e animais que precisam (algumas até poderiam ser chamadas tecnicamente de "crianças com fome", se assim preferem os que não ajudam). 





(este texto pode e deve ser reproduzido) Escrito em 13.04.2005




quinta-feira, 20 de maio de 2010

Duas amigas e nenhuma palavra.

Encontrei uma grande amiga hoje, tempos q não nos vemos. Não consegui chorar, queria. Só abracei. Dois minutos em que o mundo sumiu e tudo parou. O tempo passado voltou, as nossas conversas feitas e aquelas que ficaram por fazer.

Sensação estranha, ela estava ali, mas eu tinha a sensação que não estava mais entre nós. Linda, sempre linda. Um sorriso contagiante. E isto foi o que mais me machucou. Sei o que está acontecendo e fui incapaz de tirá-la de tudo, de tirá-la do mundo também.

Dois minutos. Ela estava atrasada, eu também.

Partimos. Ficou meu choque, meu estado de não-sei-o-que.

Respirei, e tive a sensação que ela não estava entre nós. Uma sensação de que nunca mais a verei. Meu peito se aperta, angustia. Eu fui a primeira para quem ela ligou no pior dia. E ela sumiu do mundo. 2 meses depois me ligou para nos encontrarmos. Não foi. Esperei...

Mais um tempo se passou e encontrei com ela hoje na rua. Linda, sublime. Tão sublime que me angustiou.

Dois minutos. Nenhuma palavra significativa. E meu peito ficou assim. Queria roubá-la do mundo, minha querida amiga.

Agora só me resta esperar. Ela e seu jeito tão especial de ser, de se tornar incomunicável com o mundo. Seu jeito livre, tão livre que assusta.

Só espero, com todas as minhas forças, encontrá-la novamente. Por estas ruas deste mundo tão grande para mim e tão pequeno para ela.



Minha querida Janis, tu não faz idéia do quanto me faz falta. Do quanto minha vida se realiza em te ver feliz.

20/maio/2010 ~ faz frio em SP, durante o dia um sol lindo, com ventos gelados ~ 22:08



Foto: c. 2007

domingo, 16 de maio de 2010

Primeiras semanas - Bienal experience


  • Notas sobre as duas primeiras semanas no curso de formação de monitores para a 29ª Bienal de Artes de São Paulo.

Escrevo tardiamente sobre as minhas recentes experiências, agora tenho um distanciamento crítico sobre as atividades realizadas, mas por um lado perco a essência das emoções que senti em cada uma delas. Para as próximas semanas tentarei escrever no mesmo dia, para preservar essas sensações...
Iniciam-se os trabalhos em 03 de maio, o grupo se encontrou às 9 horas na frente do Itaú Cultural, Av. Paulista. Exposição: Hélio Oiticica – O Museu é o Mundo.
Eu conhecia Oiticica só por citações, nunca fui atrás de seus trabalhos nem de sua biografia. Meus contatos com arte iniciaram-se recentemente. Até ano passado eu era uma amadora interessada, a partir do início de 2010 meus estudos na graduação foram direcionando-se para fontes visuais. Busquei por matérias que abordassem estas temáticas, e me apaixonei. Mas isto é reflexão para outro momento.
Eu poderia descrever passo a passo as exposições, era o que eu teria feito se tivesse escrito no primeiro dia de curso. Em duas semanas tanta coisa mudou em mim. Estou conseguindo me soltar de diversas amarras, estou aprendendo a fugir um pouco do academicismo e permitir-me a tantas impressões. Estou aberta às sensações que as obras me produzem, e isto é incrível! Ter iniciado o curso pela exposição do Oiticica tornou tudo mais intenso. Tive contato com uma nova concepção de museu, permiti que todas as minhas percepções fluíssem. Meu olhar, meu tato, meus sentimentos mais profundos se mostraram presentes no decorrer da exposição. Cheguei em casa com minha cabeça a mil. Um turbilhão de sensações, de vontades. Queria escrever desenfreadamente. Não escrevi, problemas pessoais não permitiram. Fechei-me novamente.
Exposição seguinte: Flávio de Carvalho, Museu de Arte Moderna. Confesso, não conseguia pensar. Minha cabeça estava muito presa ao que tinha ocorrido na noite anterior. Quero retornar à exposição. Eu já conhecia superficialmente as experiências do artista. Interesso-me por intervenções públicas.
Consigo dormir e acordar mais tranqüila. Teríamos mais um dia de exposições, desta vez na estação Pinacoteca. Tenho um apreço pessoal por aquele lugar. O Memorial da Resistência é uma referência para mim. Ligo-me emocionalmente, hoje sei perceber que não tenho um distanciamento crítico para analisá-lo como um ambiente estrategicamente pensado. Mas não é sobre isto que busco falar agora. Chegamos em uma manhã ensolarada à Pinacoteca, uma breve discussão em grupo sobre as exposições passadas e a lembrança do recente contato com a vida e obra de Oiticica volta a me rondar. Sinto vontade de seguir. De me expandir. Seguimos para a palestra no auditório da Estação. Definições de museu, preservação, acervo e afins incitaram-me a ir pesquisar mais. USP em greve. Bibliotecas fechadas. Acabei deixando as pesquisas para depois. Neste momento ainda encontrava-me presa aos moldes acadêmicos do curso de história. E não qualquer curso, mas sim o tradicional curso de história da Universidade de São Paulo, ligado à escola francesa, ainda somos muito restritivos a diversas áreas de pesquisas. Mas esta é mais uma reflexão paralela a qual não quero prender-me agora. Nota mental: escrever sobre estas reflexões.
A ida muito rápida a exposição de Andy Warhol me deixou inquieta. Quero voltar lá este final de semana. Aprendi em 3 dias que uma exposição se investiga, e não somente passa-se por ela. Recordo-me dos grupos turísticos. Visitas a 3 museus em um único dia. Uma massificação. Ir ao museu somente para tirar foto na entrada e dizer que foi. Mostrar para os amigos, manter uma “pose”. Não serei tão crítica, eu já fui a mais de uma exposição em um dia, agora não sei se conseguirei mais. Aprendi as várias facetas de uma exposição, pensar o artista, compreender seu contexto, suas escolhas técnicas. Perceber a presença da curadoria e suas escolhas, analisar a relação do educativo no museu, e tantas outras reflexões. Minha cabeça neste momento é um grande mapa aberto com uma série de interligações, lembro do jogo proposto pela Bienal.
Itaú Cultural, MAM, Estação Pinacoteca, encontro teórico, Museu Afro-Brasil, teórico novamente, Paço das Artes, MAC-USP, Instituto Tomie Ohtake, teórico, MASP, ateliês, contato artístico... Hélio Oiticica, Flávio de Carvalho, Andy Warhol, João Musa, Max Ernst... Encontros, textos, leituras, músicas, corpo, ritos, rituais, discussões, risadas, definições, conceitos, experiências, aranhas, formigas, abelhas, gestação, escuta, partilha...
Levo destes primeiros dias as experiências mais marcantes de minha vida...

Há Braços!

Amanda Catherine Monteiro

           



quarta-feira, 12 de maio de 2010

12/maio/2010 - Visita ao instituto Tomie Ohtake


Recordatório – 12/maio/2010
Instituto Tomie Ohtake
           Para iniciar este devaneio acredito ser relevante pontuar brevemente quem é Tomie Ohtake e sua relação com o Instituto.
Tomie Ohtake nasceu em 1913 em Kioto no Japão. Veio para o Brasil em 1937 para visitar seu irmão. Durante sua visita, a situação do outro lado do oceano complicou-se. A guerra iniciava-se e as alianças formaram o eixo Alemanha-Itália-Japão, impossibilitando seu retorno. Foi assim que Tomie Ohtake permaneceu no Brasil e casou-se com um brasileiro e tomou o novo país como sua segunda pátria. Iniciou seu trabalho como artista plástica nos primeiros anos da década de 1950, com quarenta anos, por influência de seu professor de pintura, o artista Keisuke Sugano. Em 1957 já realizava sua primeira exposição individual no Museu de Are Moderna de São Paulo. O espaço projetado por Ruy Ohtake leva o nome da artista, inaugurado em novembro de 2001. Por ser um instituto o ITO não possui acervo, mas produz e recebe exposições temporárias. O ITO “tem como missão difundir e refletir, através de exposições, oficinas, cursos e debates, as grandes transformações ocorridas desde os anos 50 até aquelas que estão em curso hoje, nas artes plásticas, arquitetura, design e, em breve, no teatro, performance, música, dança e cinema” [1].
Encerrada a apresentação fomos para a parte externa do ITO e tivemos contato, na prática, com os princípios de funcionamento da câmera fotográfica. Havia dois objetos que proporcionavam esta experiência: o primeiro era a Câmara Obscura, uma caixa preta com um pequeno furo e a parte interna oposta a ele pintada de branco e todas as demais partes da caixa de papelão estavam pintadas de preto. A parte branca era necessária para a projeção do reflexo e para que se enxerga-se era preciso colocar a cabeça inteira dentro da caixa. A segunda não era preciso colocar a cabeça inteira dentro da caixa, mas olhar por uma fresta para receber a imagem. Nesta segunda havia uma lente e suas imagens eram bem mais nítidas. Tivemos uma conversa sobre o que foi vivenciado e iniciamos uma discussão acerca da recepção de imagens na nossa sociedade.
Fomos em seguida para a exposição de fotografias de João Luiz Musa. A exposição é dividida em dois ambientes. O primeiro refere-se à produção do fotógrafo nos anos 1973 e 1974 quando ele viajou para a Europa. As obras são em preto e branco e nota-se uma quase ausência de pessoas, e quando estas aparecem estão sempre isoladas uma das outras, compenetradas e seus próprios mundos pessoais lendo jornais ou revistas, ou entretidas em outras atividades. No outro ambiente já podemos notar uma outra fase do fotógrafo, onde ele trabalha com cores, muitas vezes manipuladas digitalmente, e o aparecimento de pessoas em sua fotografia torna-se mais freqüente. O educador nos deixou livre para ver as obras individualmente, permitindo assim um espaço e tempo para nossas primeiras impressões. Depois nos reunimos e abrimos uma roda de discussão onde foram abordados temas como até que ponto a fotografia pode ser manipulada digitalmente, o que nos levou um debate maior acerca da questão da manipulação do artista sobre todas as formas de arte, uma vez que a pintura também é uma seleção do real assim como a fotografia. Foi questionada também a questão da presença da representação de pessoas na fase mais recente do fotógrafo, pois apesar de aparecerem muitas pessoas nas fotografias, na maioria das vezes ela estão em multidão, mas mantêm-se isoladas. O debate se expandiu para questões paralelas, e o educador nos deixou livre para seguir linhas de raciocínio e participou dando a impressão de horizontalidade nas relações estabelecidas no grupo.
Após a roda de discussões fomos ao Ateliê. Pessoalmente eu achei uma das experiências mais marcantes. Em vários museus que já visitamos o educativo informava que tinha o projeto Ateliê, mas nós não tínhamos entrado em contato direto até este momento. A possibilidade de criar, recriar e sentir todo o processo de criação do grupo foi uma sensação única. Talvez isto marcou tanto por eu não ser da área de artes plásticas e, assim como muitos no grupo, não mantenho uma prática de produção artística. Foi possível notar, inclusive, as influências de cada membro e pude traçar, uma linha artística que cada um seguiu nesta atividade. A oportunidade de representar idéias e conceitos em algo material foi uma experiência inédita para mim (com exceção dos trabalhos na época de escola). Fico, assim, ansiosa pela atividade de amanhã.

Há Braços!

Amanda Catherine Monteiro


[1] Texto retirado de: < http://www.institutotomieohtake.org.br/instituto/objetivo/teobjetivo.htm > acesso em 12/maio/2010.




PS: Texto formal, entregue ao meu supervisor... Com tempo escreverei mais livremente sobre as atividades seguintes x)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Meros devaneios tolos...

O acadêmico me prende, quero escrever, quero escrever livremente. Quero entender que tenho momentos para cada tipo de escrita. Não preciso seguir a academia sempre...
Me solte, me liberte. Preciso romper com minhas próprias regras, quero conseguir romper com a definição de parágrafo, quero brincar com as palavras e com o visual do texto...
Não consigo, ao menos não estou conseguindo. Tenho isto formatado em mim. Tese, argumento, conclusão. Escreva coerentemente, sem erros...
Mas, não me sinto mais sinto tão aflita. Acabo de perceber que talvez isto seja o meu eu. Eu gosto de ser assim, sou metódica, tenho meus traços firmes e precisos. Quem me disse que preciso escrever tão desconexamente. Posso produzir um texto fluido
Pego mais uma xícara de café, e permito-me entrar em mim mesma.
Percebo há quanto tempo eu já não escrevia. Os moldes de pré-vestibular me moldaram, moldaram a todos. Perdi a vontade de escrever nesta época. Meu tio me cobrava isso: Menina! Não deixe de escrever, isto te deixa mais viva!
Não ouvi, naquela época eu não ouvia muita coisa.
Parte da minha (re) construção pauta-se em aprender a ouvir.
A academia te estrangula. Você acha-se por momentos detentor do conhecimento, acha-se dono da formação de cabeças. Olha o mundo como ignorantes, e encontra seu refúgio dizendo como a ignorância é bela. Sarcástico. Ácido. Distanciando-se cada vez mais de seu eu, de seu eu em contato com o mundo. Tornei o outro um distante, um exótico. Assim fui seguindo. Algumas bolhas não explodem. Ainda bem que a minha não é tão resistente.
Estou aprendendo a permitir-me às explosões, aos momentos. Mas não quero perder o que é parte de mim, perder? Perder não. Tudo muda.
Se minhas produções seguem moldes acadêmicos... Me perdi. Perdi minha linha de raciocínio. Escrevo desenfreadamente para aprender a voltar a escrever. Preciso disso. Preciso desta descarga mental, preciso de frases e palavras desconexas, preciso revirar tudo para recolocá-las no lugar. Mas existe um lugar? Tudo é questionável. Como não tornar-me parte de um molde estipulado se para onde olho é um molde? A própria negação do meu eu metódico é um molde. Está na moda ser livre. Me perdi. Estou aprendendo a gostar de me perder.
Lembro-me de Clarice. Sinto vontade de ler mais. De sair mais, de respirar mais, caminhar mais. E esta angústia que sinto em achar que preciso de pelo menos 5 vidas para fazer tudo que quero?
Sinto vontade de ler. Já li mais, já senti mais.
Minhas novas experiências estão me permitindo. Eu estou me permitindo. Permitindo meu reencontro. Meu resgate às minhas antigas paixões e minha quebra de bloqueios às novas.
Sinto a vontade de ler, o retorno à escrita. Todos deveriam escrever. A prática de um diário é ótima! Pronto! Descobri uma saudade essencial. Eu escrevia muito, escrevia todos os dias. Faz anos que não escrevo. Por isso me sinto travado. Escrever, eu até escrevo: relatórios, fichamentos, resenhas... páginas e páginas de trabalhos para a faculdade. Amo-os, não nego. Amo minha formação acadêmica, mas falta algo. Falta a escrita livre. Falta a escrita sem censura. Falta a escrita sem limites de páginas, sem mínimo sem máximo, simplesmente a escrita.
Não concluo. Não irei concluir. Este é o início do meu retorno comigo mesma. Deixei minhas palavras seguirem, precisei revirar (revolução) todas as minhas idéias, paradigmas, para reordená-las. Reordená-las? AHH que mania a minha de pensar em ordem e lugar certo para tudo. Precisei revirar minha cabeça para encontrar aquilo que estava escondido, empoeirado, em baixo de tantos paradigmas. Coloco-os em pauta.
Nota: expandir vocabulário. (aprendi o sistema de notas com uma colega, para não deixar de citar).


Há Braços


Amanda Catherine Monteiro.


Nota 2: reencontrar o sentido de Há Braços em mim mesma.


São Paulo, 10/maio/2010
20:27 - faz frio no meu apartamento.

Acabo de mexer em meus arquivos pessoais, encontro um texto esquecido. Tomei uma sacudida. Estou há meses querendo me reencontrar, começo isto. Eu só precisava de um incentivo. Algo que eu me apaixonasse. Posso dizer: meus atuais encontros durante o curso da Bienal estão me instigando a isto. Estou feliz.

PS: Amo. Amo alguém especial.

Segue o texto que encontrei:

Preciso escrever. Sinto falta disso. Há algo dentro de mim que mais cedo ou mais tarde vai explodir.
Não se escreve quando se está feliz. É difícil. Se escreve quando torna-se necessária a liberação de seus demônios.
Falamos de mundo, de filmes, de pessoas. Mas não quero falar sobre nada. Quero sentir. Preciso sentir. Faz tempo que não sinto. Só falo, respiro, existo. Mas não vivo.
Mas passa. Logo passa. Só preciso retornar ao meu mundo. Vozes me cansam, as pessoas me cansam, suas risadas suas vidas.
Mas o problema sou eu e não os outros. Preciso respirar. É a lei da selva. Vamos! Viva, conviva, sobreviva.


São Paulo, 4 de fevereiro de 2010.
00:39 de uma linda noite em São Paulo.


Olá Estranho...


Texto escrito em 10 minutos, para dinâmica proposta pelo supervisor do curso de formação de monitores da 29ª Bienal de SP:

 Olá estranho, assim como no filme que é marcado por este comprimento, aqui estou eu, disposta a te contar um pouco sobre mim.
            Vivemos no mesmo planeta, (ou não, como diria Caetano), partilhamos das mesmas necessidades básicas de sobrevivência, o que nos separa é a relação que mantemos com estar necessidades.
            Faz tempo que não escrevo, sinto falta disso, a entrega pelo papel me humaniza, espero que você também sinta isso um dia. Mas volto às relações que mantemos com as necessidades.
            Meu nome é Amanda, não sei por que, Catherine, pela minha tia, Vieira, pela minha mãe e Monteiro, pelo meu pai. Mas isto não influenciou minha relação com o mundo. A rosa teria o mesmo perfume com outro nome. Estou me perdendo em devaneios tolos e o tempo passa, volto a mim.
            Acredito nas relações familiares como base para a construção de nossas vidas. Entre dramas e felicidades tenho na minha família materna toda base de minha formação. Com eles e de diversas formas aprendi que todos os temas necessidades, mas recebê-las sempre de forma positiva é que muda a relação. Não acredito em “famílias exemplos”, nem acredito em pessoas sem problemas pessoais, mas pauto toda minha vida na forma como lidamos com estes problemas.
            Cresci dentro do movimento escoteiro, devo grande parte da minha formação de caráter à eles, a nós. Indico sempre, não de forma panfletária, a participação de todas as pessoas do mundo neste movimento. Não necessariamente no escoteiro, mas neste movimento de cooperação coletiva, as formações em grupo e como as recebemos é sempre presente em tudo na vida.
            E lá vou eu novamente perdendo noção do tempo que tenho para relacionar-me com você, estranho. Estranho a esta altura já tomou outra proporções, pouco falei, mas temos em todos nós eternas relações conjuntas por habitarmos o mesmo lugar.
            Contei a você sobre minhas bases e a partir delas eu construo meu castelo. Identifico-me com a graduação que faço, tenho sonhos a longo prazo, que a pouco comecei a preparar seu terreno. Amo minha irmã, a minha pequena heroína. Parte da minha vida se pauta no crescimento dela.
            Pronto, é mais ou menos isso que eu tinha para lhe contar. São 10 minutos para escrever uma vida e suas relações e percepções, mas adorei voltar a escrever, obrigada e até a próxima oportunidade.
                            Com Carinho,
                       Amanda Catherine Vieira Monteiro


sexta-feira, 9 de abril de 2010

Uma vez escoteiro...




"Levei seis anos de minha infância com um lenço enrolado no pescoço, flor-de-lis na
lapela e pureza no coração, para descobrir que não passava de um candidato à solidão.
Alguma coisa ficou, é verdade: a certeza de que posso a qualquer momento arrumar a
minha mochila, encher de água o meu cantil e partir.
Afinal de contas aprendi mesmo a seguir uma trilha, a estar sempre alerta, a ser sozinho,
fui escoteiro —
e uma vez escoteiro, sempre escoteiro".

Fernando Sabino.